Remédios Caros Filho Exigem Divisão Justa Entre Pais
Medicamentos de alto custo para filhos podem comprometer todo o orçamento familiar e exigem regras claras de divisão de responsabilidades entre os pais, com base na proporcionalidade e na preservação da saúde da criança.
Quando um filho passa a depender de medicamentos de alto custo, a rotina da família muda por completo. De repente, a planilha de gastos deixa de girar apenas em torno de escola, alimentação e moradia, e passa a incluir um valor fixo elevado com remédios, exames e tratamentos. Em cenários de pais separados, surge a pergunta: quem paga o quê? É possível obrigar o outro genitor a dividir esses custos? Como organizar essa divisão de responsabilidades sem transformar tudo em conflito permanente?
Medicamentos de alto custo e o impacto financeiro para a família
Quando o remédio deixa de ser eventual e vira parte do orçamento fixo
Muitos acordos de pensão são firmados em um contexto em que o filho é saudável ou possui apenas despesas de saúde consideradas “normais”: consultas esporádicas, remédios simples e exames eventuais. O problema aparece quando surge um diagnóstico novo ou um agravamento de quadro antigo que exige medicamentos caros, contínuos e, muitas vezes, por tempo indeterminado.
É o caso, por exemplo, de:
- Doenças autoimunes que exigem imunobiológicos ou remédios especiais;
- Quadros neurológicos ou psiquiátricos com tratamento medicamentoso prolongado;
- Deficiências raras, doenças genéticas e tratamentos oncológicos;
- Uso combinado de remédios, terapias, insumos e exames periódicos especializados.
Efeitos típicos dos medicamentos de alto custo no orçamento
- Compressão de outras despesas essenciais: aluguel, alimentação e transporte começam a ser sacrificados para manter o tratamento.
- Endividamento: compras parceladas em cartão, empréstimos, atraso em contas básicas.
- Conflito entre os pais: um sente que “paga tudo sozinho”, o outro se sente injustiçado, e a criança fica no meio da disputa.
Diferença entre gasto eventual e despesa permanente de saúde
Do ponto de vista jurídico e prático, é essencial separar o que é gasto eventual do que se tornou despesa permanente de saúde. Um antibiótico de 10 dias, por exemplo, tende a ser absorvido dentro do que já foi previsto na pensão. Já um imunobiológico mensal de valor muito alto, ou uma combinação de remédios de uso prolongado, costuma ser entendido como mudança relevante na realidade financeira.
É justamente essa mudança estrutural – e não um episódio isolado – que abre espaço para falar em reorganização da divisão de responsabilidades entre os pais e, se necessário, em revisão judicial da pensão.
Fundamentos jurídicos da divisão de responsabilidades entre os pais
Dever conjunto de sustento e o melhor interesse da criança
No Direito de Família, a regra é clara: ambos os pais são responsáveis pelo sustento e pela saúde dos filhos, independentemente de estarem juntos ou separados. A pensão alimentícia é apenas a forma prática de distribuir esse dever quando a criança reside com um dos genitores.
Quando entram em cena medicamentos de alto custo, o que se discute não é “se o pai ou a mãe quer ajudar”, mas como a obrigação em comum será repartida, levando em conta:
- As necessidades do filho (tratamento indicado, frequência, valor);
- As possibilidades financeiras de cada genitor, considerando renda, outros filhos e compromissos básicos;
- O melhor interesse da criança como critério principal, acima de disputas pessoais.
Princípios que orientam a divisão de despesas médicas
- Proporcionalidade: quem ganha mais tende a contribuir com parcela maior dos custos.
- Solidariedade familiar: a saúde do filho é interesse comum, não “problema de um só”.
- Prioridade da saúde: a despesa com tratamento essencial tem peso superior a gastos supérfluos dos pais.
Alimentos ordinários, despesas extraordinárias e pactos específicos
Muitos acordos e sentenças já distinguem, na prática, alimentos ordinários (pensão mensal) e despesas extraordinárias de saúde e educação. Quando um medicamento de alto custo surge depois, é comum que ele seja tratado como despesa extraordinária a ser dividida, e não necessariamente como aumento automático da pensão fixa.
Essa divisão pode ser feita de várias formas:
- Percentuais (por exemplo, 60% para um genitor, 40% para o outro);
- Responsabilidade direta por determinados itens (um paga o plano de saúde, o outro custeia o medicamento);
- Reembolso proporcional mediante apresentação de notas fiscais dentro de prazo ajustado.
Aplicação prática: como organizar a divisão dos medicamentos de alto custo
Passo 1 – Documentar diagnóstico, tratamento e valores
O primeiro passo é transformar a situação em dados concretos. Isso significa reunir:
- Relatórios médicos descrevendo o diagnóstico, a necessidade do medicamento, dosagem e previsão de duração do tratamento;
- Receitas atualizadas, com o nome dos remédios, via de uso e frequência;
- Orçamentos e notas fiscais de farmácias ou distribuidores, e relatórios de negativas de fornecimento pelo SUS ou plano de saúde, se houver.
Uma boa prática é montar uma planilha mensal com os custos médios, incluindo variações de preço e eventuais economias obtidas (compra programada, genéricos, programas de desconto).
Passo 2 – Tentar acordo claro e detalhado entre os pais
Com os números em mão, o ideal é buscar um acordo extrajudicial antes de partir para a ação judicial. Esse acordo pode prever, por exemplo:
- Percentual de divisão dos medicamentos de alto custo e de outros gastos de saúde;
- Procedimento para envio de notas fiscais (por e-mail, aplicativo, até uma data fixa do mês);
- Prazo máximo para reembolso, forma de pagamento e o que acontece em caso de atraso;
- Revisão periódica dos valores em caso de alteração do tratamento ou da renda de cada um.
Exemplo de divisão proporcional por renda
| Situação | Genitor A | Genitor B |
|---|---|---|
| Renda mensal | R$ 6.000,00 | R$ 4.000,00 |
| Proporção sugerida | 60% | 40% |
| Medicamento mensal (R$ 2.000,00) | R$ 1.200,00 | R$ 800,00 |
Passo 3 – Quando o acordo não é possível: judicialização
Se um dos genitores se recusa a colaborar ou aceita apenas valores muito abaixo da sua capacidade, o caminho pode ser:
- Ação revisional de alimentos, pedindo aumento da pensão para contemplar os medicamentos de alto custo; ou
- Ação específica para divisão de despesas extraordinárias, quando já existe cláusula prevendo rateio de saúde, mas o outro lado não cumpre.
Em casos de urgência (como risco de interrupção do tratamento), é comum pedir uma tutela provisória para que o juiz fixe um valor inicial ou determine a divisão imediata dos custos, enquanto o processo segue seu curso.
Detalhes técnicos e pontos sensíveis na prática
Transparência, prestação de contas e boa-fé
Mesmo quando existe decisão judicial ou acordo, conflitos podem continuar se não houver transparência na prestação de contas. Por isso, é recomendável:
- Enviar cópias claras de receitas e notas, de preferência em formato digital;
- Evitar incluir na mesma nota outros itens que não são do tratamento (como compras de mercado);
- Comunicar alterações de dosagem ou troca de medicamento assim que ocorrerem;
- Registrar, por escrito, eventuais combinações sobre compra antecipada ou parcelada.
Complementariedade entre SUS, plano de saúde e recursos próprios
Em alguns casos, parte do custo pode ser reduzida com:
- Tentativa de obtenção do medicamento pelo SUS ou via processo de fornecimento judicial contra o Estado;
- Uso adequado de plano de saúde, com busca de genéricos, programas de desconto e redes credenciadas;
- Programas de apoio dos próprios laboratórios farmacêuticos.
Essas alternativas não excluem a obrigação dos pais, mas podem diminuir o valor a ser dividido e facilitar a concordância entre as partes.
Exemplos práticos de divisão de responsabilidades entre os pais
Exemplo 1 – Criança com doença rara e remédio custeado parcialmente pelo Estado
Filho é diagnosticado com doença rara tratada com medicamento de altíssimo custo. Após ação contra o Estado, parte do remédio passa a ser fornecida pelo SUS, mas há coparticipação, exames e outros medicamentos complementares não cobertos. Os pais firmam acordo em que:
- O genitor A custeia 70% das despesas complementares de saúde;
- O genitor B arca com os 30% restantes e com o plano de saúde;
- Ambos revisam a planilha de gastos a cada seis meses, à luz de novos relatórios médicos.
Exemplo 2 – Adolescente em tratamento psiquiátrico de longo prazo
Adolescente inicia tratamento psiquiátrico com medicamentos caros, consultas mensais e terapia. O genitor que reside com o filho comprova que o gasto mensal com saúde triplicou. Sem acordo, ajuíza revisional de alimentos. O juiz, com base em laudos e notas fiscais, decide:
- Majorar a pensão em valor específico destinado às despesas de tratamento;
- Determinar que notas sejam apresentadas semestralmente, garantindo transparência no uso dos recursos.
Exemplo 3 – Pais com rendas muito diferentes e divisão desigual
Um dos pais tem renda muito superior à do outro. Reconhecido o diagnóstico de doença crônica infantil, as partes concordam que o genitor de maior renda assumirá 80% dos medicamentos de alto custo, enquanto o outro contribui com 20% e se responsabiliza por despesas escolares. A divisão respeita a proporcionalidade e reduz conflitos.
Erros comuns na gestão de medicamentos de alto custo entre os pais
- Não guardar notas fiscais, relatórios e receitas que comprovem a real dimensão do gasto.
- Tentar resolver tudo apenas por mensagens improvisadas, sem formalizar um acordo claro.
- Confundir gastos pontuais com despesa fixa, pedindo aumento desproporcional da pensão.
- Recusar qualquer diálogo ou proposta de rateio, apostando apenas em litígio judicial.
- Usar o tema “remédios do filho” como instrumento de chantagem ou retaliação nas disputas pessoais.
- Deixar de atualizar o outro genitor sobre mudanças no tratamento, o que gera desconfiança e questionamentos.
Conclusão: proteger a saúde do filho e distribuir o peso financeiro com justiça
Os medicamentos de alto custo para filhos expõem, com força, o desafio de equilibrar o orçamento familiar com o dever jurídico e moral de garantir tratamento adequado. A divisão de responsabilidades entre os pais não é um favor, mas expressão prática da solidariedade familiar e do foco no melhor interesse da criança. Com diagnósticos bem documentados, planilhas claras de gastos e, sempre que possível, acordos transparentes, é possível construir soluções mais justas, reduzir conflitos e assegurar que o centro da discussão seja aquilo que realmente importa: a proteção da saúde e da dignidade do filho.
Situação central: filho com diagnóstico que exige medicamentos de alto custo, uso prolongado e impacto direto no orçamento familiar, especialmente quando os pais estão separados.
Problema financeiro típico: o valor dos remédios passa a consumir parte relevante da renda, deixando pouca margem para outras despesas essenciais (alimentação, moradia, transporte, escola).
- Medicamentos de alto custo: imunobiológicos, remédios para doenças raras, tratamentos oncológicos, medicamentos psiquiátricos prolongados, fórmulas especiais.
- Natureza da despesa: gasto fixo, contínuo e previsível, diferente de um tratamento pontual e de curta duração.
- Risco jurídico: um dos pais arca sozinho com os custos, enquanto o outro contribui apenas com a pensão “antiga”, calculada em cenário de menor necessidade.
Passos práticos iniciais:
- Reunir relatórios médicos, receitas e indicação formal dos medicamentos.
- Organizar notas fiscais, orçamentos e comprovantes de todos os gastos mensais com o tratamento.
- Montar uma planilha de custos comparando a pensão recebida com as novas despesas de saúde.
- Tentar um acordo claro sobre divisão de despesas: percentuais, prazos, forma de pagamento e prestação de contas.
- Se não houver consenso, avaliar com profissional do Direito a revisão da pensão ou a cobrança judicial de despesas médicas.
Ponto-chave: a discussão não é apenas “quem paga mais”, mas como distribuir o peso de forma proporcional à renda de cada genitor, sem comprometer o acesso do filho ao tratamento indicado.
1. Medicamentos de alto custo sempre justificam a divisão de despesas entre os pais?
Em regra, sim. Como o dever de sustento é de ambos, medicamentos de alto custo e uso contínuo costumam ser tratados como despesa que deve ser partilhada, respeitando a capacidade financeira de cada genitor e o melhor interesse da criança.
2. É preciso aumentar a pensão ou posso apenas dividir os gastos de saúde?
Existem as duas possibilidades. Em alguns casos, a solução é revisar o valor da pensão; em outros, é mais adequado manter a pensão e criar uma cláusula específica de rateio dos medicamentos e tratamentos, com reembolso proporcional mediante apresentação de notas.
3. O que acontece se um dos pais se recusa a contribuir com os remédios?
Persistindo a recusa, quem está arcando com os gastos pode buscar o Judiciário, por meio de ação revisional de alimentos ou pedido de cumprimento da obrigação de dividir despesas de saúde, apresentando provas do tratamento e das tentativas de solução amigável.
4. Como comprovar que o medicamento é realmente necessário e não apenas uma escolha do responsável que convive com o filho?
A melhor forma é apresentar relatórios e laudos médicos descrevendo diagnóstico, justificativa clínica para o uso do medicamento de alto custo, alternativas avaliadas, tempo previsto de tratamento e riscos em caso de interrupção.
5. A divisão de despesas deve ser sempre 50% para cada genitor?
Não obrigatoriamente. A regra que costuma prevalecer é a proporcionalidade: quem possui renda maior tende a assumir parcela maior do custo, desde que isso não comprometa o mínimo existencial do outro genitor.
6. O SUS ou o plano de saúde não afastam a responsabilidade dos pais?
Mesmo quando existe SUS ou plano de saúde, sobram coparticipações, medicamentos não cobertos, franquias e outras despesas associadas. Esses custos residuais ainda fazem parte do dever de sustento e podem ser divididos entre os pais, de acordo com o caso concreto.
7. Preciso formalizar a divisão em acordo ou sentença, ou basta combinar verbalmente?
Combinações verbais podem funcionar no curto prazo, mas geram insegurança. Sempre que possível, é recomendável formalizar o acordo por escrito e, se a situação for duradoura, buscar homologação judicial, para evitar discussões futuras sobre valores e obrigações.
Fundamentação jurídico-técnica sobre medicamentos de alto custo e divisão entre os pais
A discussão sobre medicamentos de alto custo para filhos e a divisão de responsabilidades entre os pais se ancora em princípios gerais do Direito de Família, como o dever de sustento, a solidariedade familiar e o melhor interesse da criança e do adolescente. A obrigação de prover saúde não se limita ao pagamento de uma pensão fixada no passado, mas acompanha a evolução das necessidades do filho.
Na prática, o Judiciário analisa o tema a partir do conhecido binômio necessidade x possibilidade:
- Necessidade: demonstrada pela existência de doença ou condição que exige medicamentos e tratamentos de valor elevado, com base em laudos e prescrições médicas.
- Possibilidade: aferida a partir da situação econômica de cada genitor, considerando renda, outros dependentes, padrão de vida e gastos essenciais.
Quando se comprova que as necessidades aumentaram de forma relevante, especialmente devido a tratamento de saúde contínuo, abre-se espaço para pedidos de:
- Revisão do valor dos alimentos, com majoração da pensão para incluir o custo dos remédios; e/ou
- Fixação de cláusula específica para rateio de despesas médicas extraordinárias, definindo percentuais, prazos e mecanismos de reembolso.
A fundamentação jurídico-técnica também costuma destacar que, em situações de risco à saúde ou à vida, a despesa médica essencial tem prioridade sobre gastos supérfluos dos pais. A omissão injustificada de um dos genitores no custeio de medicamentos indispensáveis pode ser interpretada como descumprimento do dever de sustento, abrindo espaço, em casos extremos, para medidas mais severas no âmbito civil e até repercussões em outras áreas do Direito.
Por outro lado, o mesmo raciocínio de proporcionalidade protege o genitor que, apesar de boa-fé, realmente não possui recursos para arcar com parcela maior do que a sua capacidade. Por isso, a análise judicial tende a ser casuística, levando em conta a combinação de provas médicas, documentos financeiros, histórico de pagamentos e eventuais acordos já existentes.
Considerações finais
Medicamentos de alto custo para filhos revelam, na prática, o quanto a responsabilidade parental vai além do valor “padrão” de pensão alimentícia. Quando o tratamento se torna permanente e caro, a divisão equilibrada dos custos deixa de ser uma opção para virar extensão natural do dever de sustento. Organizar documentos, calcular com clareza o impacto financeiro e buscar acordos transparentes – ou revisão judicial quando necessário – são caminhos para proteger a saúde da criança e evitar que um dos pais carregue sozinho todo o peso dessa despesa.
Essas informações têm caráter geral e informativo e não substituem, em nenhuma hipótese, a orientação personalizada de profissionais habilitados – como advogados, defensores públicos, contadores e médicos –, que devem analisar os documentos, a situação econômica da família e a legislação aplicável antes de qualquer decisão concreta.

