Ação de Cobrança: como funciona e quando pode ser utilizada
Conceito e Finalidade da Ação de Cobrança
A ação de cobrança é o meio judicial utilizado por quem possui um crédito (dívida) a receber, mas não conta com um título executivo extrajudicial que permita o ajuizamento imediato de uma execução. Assim, quando o credor tem uma dívida reconhecida, mas apenas comprovada por contrato simples, notas fiscais, recibos ou outros documentos, a via correta é a ação de cobrança, que busca o reconhecimento judicial da obrigação.
A finalidade dessa ação é dupla: (i) obter o reconhecimento judicial da existência do débito e (ii) garantir a condenação do devedor ao pagamento. Diferencia-se da ação de execução, que exige título executivo formal, como cheque, duplicata, escritura pública, contrato com cláusula de confissão de dívida, entre outros.
Base Legal
O Código de Processo Civil (CPC/2015) disciplina a ação de cobrança de forma geral, sem artigos específicos, já que se trata de uma ação de conhecimento, que segue o rito comum (arts. 318 a 512 do CPC). Além disso:
- Código Civil: regula os direitos e obrigações decorrentes dos contratos e outras fontes de dívidas (arts. 389 a 420).
- Constituição Federal: assegura o direito de acesso ao Judiciário (art. 5º, XXXV).
- CPC, art. 784: relaciona os títulos executivos extrajudiciais, cuja ausência leva ao uso da ação de cobrança.
“Art. 389 do Código Civil: Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”
Quando Utilizar a Ação de Cobrança
A ação de cobrança é cabível em diversas situações, especialmente quando o credor não possui título executivo, mas dispõe de documentos ou provas que demonstrem a existência da dívida. Exemplos comuns incluem:
- Contrato particular de prestação de serviços sem cláusula de confissão de dívida.
- Notas fiscais emitidas e não pagas.
- Recibos de compra e venda não quitados.
- Mensalidades escolares ou de condomínio quando não representadas por título executivo.
- Dívidas decorrentes de relações civis e comerciais sem título executivo formal.
Portanto, sempre que a dívida existir, mas o documento não se enquadrar como título executivo (art. 784, CPC), o caminho é a ação de cobrança.
Etapas do Procedimento
1. Petição inicial
O credor (autor) apresenta petição inicial com documentos que comprovem a relação jurídica e o inadimplemento. Deve indicar o valor atualizado da dívida, acrescido de juros e correção monetária.
2. Citação do devedor
O réu é citado para apresentar defesa no prazo de 15 dias úteis. Ele pode contestar a existência da dívida, alegar pagamento, prescrição ou outras matérias de defesa previstas em lei.
3. Fase probatória
Se houver divergência, o juiz poderá determinar a produção de provas: testemunhais, documentais, periciais ou inspeção judicial, dependendo da natureza da cobrança.
4. Sentença
Ao final, se reconhecer a dívida, o juiz condenará o réu ao pagamento do valor devido. Com a sentença transitada em julgado, o credor passa a ter um título executivo judicial.
5. Cumprimento de sentença
Se o devedor não pagar voluntariamente no prazo de 15 dias, o credor poderá requerer o cumprimento da sentença, com possibilidade de penhora de bens, bloqueio de contas e outras medidas executivas.
Quadro Informativo
| Aspecto | Ação de Cobrança | Ação de Execução |
|---|---|---|
| Necessidade de título executivo | Não | Sim |
| Tempo de tramitação | Mais demorado (fase de conhecimento) | Mais rápido (execução direta) |
| Provas | Documentais, testemunhais, periciais | Título já comprova a obrigação |
| Resultado | Sentença condenatória (gera título executivo judicial) | Cumprimento imediato com medidas coercitivas |
Prazos e Prescrição
O direito de cobrar uma dívida está sujeito à prescrição, ou seja, perda do direito de ação pelo decurso do tempo. O Código Civil, no art. 205, prevê prescrição geral de 10 anos, salvo prazos menores em situações específicas:
- 5 anos para dívidas líquidas constantes de instrumento particular (art. 206, §5º, I, CC).
- 3 anos para aluguéis e dívidas de locação (art. 206, §3º, I, CC).
- 2 anos para cobrança de dívidas de profissionais liberais (art. 206, §2º, CC).
Portanto, o credor deve estar atento aos prazos prescricionais para não perder o direito de cobrar judicialmente.
Considerações Finais
A ação de cobrança é um instrumento fundamental para garantir ao credor o direito de receber o que lhe é devido, quando não possui título executivo extrajudicial. Embora mais demorada que a execução, ela permite transformar uma dívida simples em título judicial, habilitando o credor a exigir o cumprimento forçado.
O acompanhamento por advogado é indispensável, tanto para estruturar corretamente o pedido quanto para calcular valores devidos com atualização e juros. Assim, a ação de cobrança representa um mecanismo de proteção ao crédito e de fortalecimento da segurança jurídica nas relações civis e comerciais.
Visão Geral: Aspectos Essenciais da Ação de Cobrança
Antes de aprofundar em perguntas específicas, é útil destacar alguns pontos-chave sobre como funciona a ação de cobrança. Essa visão geral fornece um resumo inicial para orientar advogados, credores e devedores:
- Finalidade: utilizada quando não há título executivo extrajudicial, mas o credor possui provas de que a dívida existe.
- Diferença da execução: na cobrança, o credor precisa primeiro provar o débito; já na execução, a obrigação está formalmente documentada em título executivo (art. 784, CPC).
- Documentos comuns: contratos sem testemunhas, notas fiscais, recibos, planilhas, e-mails, mensagens, comprovantes de entrega.
- Tramitação: segue o rito comum (arts. 318 a 512 do CPC), com fases de instrução probatória, sentença e cumprimento.
- Prescrição: regra geral de 10 anos (art. 205, CC), mas há prazos menores: 5 anos para dívidas líquidas em instrumento particular, 3 anos para aluguéis, 2 anos para profissionais liberais (art. 206, CC).
- Resultado: a sentença condenatória gera título executivo judicial, que pode ser cobrado em cumprimento de sentença com penhora e bloqueio de bens.
- Juizado Especial: dívidas até 40 salários mínimos podem ser cobradas pelo JEC, tornando o processo mais rápido e econômico.
Com esses elementos iniciais, já é possível compreender em linhas gerais o que é a ação de cobrança, quando deve ser utilizada e como se desenvolve no processo civil brasileiro. Nos próximos blocos, entram os detalhes técnicos e as dúvidas mais recorrentes.
Perguntas Frequentes sobre Ação de Cobrança
O que é uma ação de cobrança?
Quando devo entrar com ação de cobrança em vez de execução?
Quais documentos posso usar como prova?
Qual é o prazo prescricional para cobrar uma dívida?
É possível ajuizar ação de cobrança no Juizado Especial Cível?
O que acontece depois da sentença?
Quais são os custos envolvidos?
Qual a diferença entre ação de cobrança e ação monitória?
Preciso de advogado para propor ação de cobrança?
Quanto tempo costuma durar uma ação de cobrança?
Análise Técnica com Fontes Legais
A ação de cobrança insere-se no âmbito das ações de conhecimento previstas no Código de Processo Civil de 2015, especialmente no art. 318, que trata do procedimento comum. Sua especificidade está no fato de que o credor, não dispondo de título executivo extrajudicial (rol do art. 784, CPC), precisa buscar a tutela jurisdicional para que a dívida seja reconhecida e posteriormente executada.
Do ponto de vista substancial, a obrigação inadimplida encontra respaldo no Código Civil. O art. 389 estabelece que o devedor inadimplente responde por perdas e danos, juros, atualização monetária e honorários advocatícios. Já os arts. 205 e 206 definem os prazos prescricionais, que variam conforme a natureza da dívida (10 anos como regra geral, 5 anos para dívidas líquidas em instrumento particular, 3 anos para aluguéis e 2 anos para serviços de profissionais liberais).
O procedimento judicial se inicia com a petição inicial, instruída com provas documentais e eventualmente testemunhais. O réu é citado para contestar (art. 335, CPC), podendo alegar pagamento, prescrição ou inexistência da dívida. Caso haja necessidade de dilação probatória, o processo segue para a fase instrutória, com produção de provas. A sentença, se reconhece a obrigação, constitui título executivo judicial (art. 515, I, CPC), permitindo o início da fase de cumprimento (arts. 513 e seguintes, CPC).
É relevante mencionar a diferença com a ação monitória (art. 700, CPC), utilizada quando há prova escrita sem eficácia de título executivo. Se não houver prova escrita robusta, a via correta é a ação de cobrança, pela necessidade de instrução probatória mais ampla. Esse detalhe é frequentemente discutido na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que reafirma o caráter residual da cobrança.
Fontes Legais Principais
- Constituição Federal, art. 5º, XXXV: princípio da inafastabilidade da jurisdição.
- Código Civil, arts. 389, 394 a 420: inadimplemento das obrigações.
- Código Civil, arts. 205 e 206: prazos prescricionais.
- Código de Processo Civil, arts. 318 a 512: procedimento comum.
- Código de Processo Civil, art. 784: títulos executivos extrajudiciais.
- Código de Processo Civil, art. 700: ação monitória.
- Código de Processo Civil, art. 515, I: sentença como título executivo judicial.
- Código de Processo Civil, arts. 513 a 523: cumprimento de sentença.
Síntese Final
A ação de cobrança cumpre papel essencial no sistema processual, sendo o mecanismo adequado para credores que não possuem título executivo formal, mas que contam com elementos de prova suficientes para demonstrar a dívida. Apesar de mais lenta que a execução, sua importância é evidente na prática forense, especialmente em relações civis e comerciais complexas, nas quais a prova depende de um conjunto de documentos, testemunhas e perícia.
O legislador conferiu ao instituto um caráter de via residual, a ser utilizada quando nem a execução nem a monitória se mostram adequadas. Na prática, é o caminho que garante ao credor transformar sua pretensão em um título executivo judicial, apto a ensejar penhora, bloqueio de ativos e constrição de bens. O êxito da demanda depende, sobretudo, da organização da prova e do domínio dos prazos prescricionais, pontos decisivos para evitar a perda do direito de ação.
Em síntese, a ação de cobrança não é apenas um processo para buscar valores em atraso, mas um instrumento que equilibra a proteção do crédito com a necessidade de ampla defesa e contraditório, pilares do devido processo legal.

