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Cobrança abusiva no cartão: como identificar, contestar e reduzir sua dívida

Panorama prático: quando a dívida de cartão vira um problema jurídico

O cartão de crédito é, ao mesmo tempo, meio de pagamento, linha de crédito rotativa e plataforma de serviços adicionais (seguros, assinaturas, programas de benefícios). Essa combinação cria zonas de risco em que a cobrança pode extrapolar os limites da lei e do contrato, configurando prática abusiva. O Brasil possui um arcabouço robusto para proteger o consumidor: o CDC, normas do Banco Central e jurisprudência do STJ — inclusive com súmulas — definem quando a instituição financeira deve estornar/ajustar valores, provar a regularidade técnica de operações e abster-se de cláusulas desequilibradas. Desde janeiro de 2024, entrou em vigor o limite que impede que a dívida do rotativo e da fatura parcelada ultrapasse 100% do valor principal (o débito não pode mais do que dobrar), medida oficializada pelo Banco Central e derivada da lei que instituiu o Programa Desenrola. 0

Base legal essencial para reconhecer a abusividade

Regras de proteção do consumidor

  • Art. 14 do CDC — impõe responsabilidade objetiva ao fornecedor por falhas do serviço (inclusive segurança/autenticação no sistema bancário). 2
  • Art. 39 do CDC — proíbe práticas abusivas como venda casada e execução de serviços sem solicitação. 3
  • Art. 51 do CDC — declara nulas cláusulas que autorizem alteração unilateral ou imponham desvantagem exagerada. 4
  • Art. 42, parágrafo únicorepetição do indébito em dobro quando comprovada má-fé na cobrança. 5

Jurisprudência do STJ

  • Súmula 297 — o CDC se aplica aos bancos. 6
  • Súmula 479 — as instituições financeiras respondem objetivamente por fortuito interno (fraudes/erros do sistema). 7

Normas do Banco Central que impactam a cobrança

O CMN/Bacen regulamentou o teto de 100% para o somatório de juros e encargos do rotativo e da fatura parcelada, de modo que a dívida não ultrapasse o dobro do principal. Qualquer cobrança acima disso exige ajuste. 8

Indicadores: por que o tema importa

Historicamente, o rotativo do cartão exibiu as maiores taxas de juros do mercado brasileiro — patamares superiores a 430% ao ano em 2023/2024 segundo dados citados por veículos e pelo próprio BC. Mesmo com o novo teto limitando o acúmulo da dívida, as taxas nominais divulgadas como “rotativo” permanecem elevadas nas estatísticas, o que torna crucial a negociação rápida e o correto enquadramento dos encargos na fatura. 9

Impacto do teto: dívida principal de R$ 1.000 Cenário antigo
430% a.a. ≈ R$ 5.300* Cenário atual
teto 100%
R$ 2.000 máx. *Exemplo didático: sem teto e sem amortização. O teto vigente limita o montante a 2x o principal. 10
O teto não reduz a taxa nominal divulgada pelo BC; ele limita o crescimento da dívida até 100% do principal. 11

Em que situações a cobrança se torna abusiva (com exemplos e provas)

1) Encargos que ultrapassam o teto de 100% do principal

Após a regra de 2024, a soma de juros e encargos do rotativo e do parcelamento da fatura não pode superar o dobro da dívida original. Se a fatura projeta montantes acima disso, há abusividade e o consumidor pode exigir ajuste e planilha discriminada (memória de cálculo). 12

2) “Serviços” embutidos e venda casada

Seguros e clubes de benefícios adicionados sem opt-in explícito, “monitoramento de CPF”, “aviso SMS pago” e afins violam o art. 39 do CDC. Exija cópia do contrato/termos e, na falta de comprovação de adesão, peça cancelamento retroativo e devolução (em dobro, se comprovada má-fé). 13

3) Alterações unilaterais de taxas e limites sem aviso claro

Cláusulas que autorizam o emissor a mudar tarifas, juros ou reduzir limites sem transparência e sem janela de cancelamento violam o art. 51 do CDC. A alteração relevante exige comunicação prévia e possibilidade de encerramento sem multa. 14

4) Negativa de estorno sem prova técnica

Em compras não reconhecidas, o banco precisa apresentar evidências de autenticação (chip+senha/biometria ou 3-D Secure) e logs. A recusa baseada apenas em “defesa do lojista” fere o art. 14 do CDC e a Súmula 479 (fortuito interno). 15

5) Cobrança por “serviço não solicitado”

O art. 39, III, do CDC considera abusivo o fornecimento de serviços sem solicitação prévia; tais cobranças se equiparam a amostra grátis e não geram obrigação de pagamento. 16

Passo a passo para reagir administrativamente

  1. SAC — peça revisão da cobrança, planilha com memória de cálculo (juros, IOF, multa), cópia dos termos assinados e, em fraude, evidências de autenticação. Solicite protocolo e prazo.
  2. Ouvidoria — reitere com linha do tempo, anexos e pedido de relatório conclusivo.
  3. Consumidor.gov.br — abre prazo regulatório e aumenta a taxa de resolução (boletins oficiais registram solução média elevada). 17
  4. Procon — formalize infração ao CDC, peça ajuste/estorno e termo de compromisso.
  5. Consulte o Ranking de Reclamações do Bacen para entender o histórico da instituição. 18

Negociação inteligente sem abrir mão de direitos

Negocie, mas com memória de cálculo em mãos. Exija o CET (ao mês/ano) do parcelamento e compare com alternativas (empréstimo pessoal, transferência de saldo). A nova regra do teto do rotativo impede que a dívida ultrapasse 2x o principal; nos acordos, verifique se os encargos projetados respeitam esse limite e se não há “serviços” adicionados à proposta. 19

Quando levar ao Judiciário e o que pedir

Se a instituição mantiver a cobrança abusiva ou negar o ajuste/estorno sem prova técnica, é possível ajuizar ação, preferencialmente no Juizado Especial Cível (até 40 salários mínimos). Pedidos típicos:

  • Declaração de inexigibilidade dos encargos irregulares e revisão contratual (arts. 6º, 51 do CDC); 20
  • Obrigação de fazer: fornecer planilha, exibir contratos/logs/autenticações; 21
  • Repetição do indébito (em dobro se comprovada má-fé) e danos morais em caso de negativação indevida; 22
  • Tutela de urgência para suspender a cobrança/negativação enquanto se discute o mérito.

A jurisprudência do STJ — com as Súmulas 297 e 479 — reforça a aplicação do CDC aos bancos e a responsabilidade por falhas de segurança e processamento. 23

Tabela prática: sinais de cobrança abusiva e como enquadrar

Sinal de abuso Base legal O que pedir Provas-chave
Encargos > 100% do principal Teto rotativo/fatura parcelada (Bacen) Ajuste e planilha com memória de cálculo Fatura, simulação do emissor
Serviços/seguros sem solicitação CDC art. 39, III Cancelamento e devolução (em dobro, se má-fé) Ausência de aceite/termos; faturas
Alteração unilateral sem aviso CDC art. 51 Nulidade da cláusula e devolução de diferenças Contrato, comunicações
Negativa de estorno sem evidência CDC art. 14; Súmula 479/STJ Estorno/inexigibilidade; exibição de logs Relatórios 3-DS/PIN, logs do POS

Como ler a fatura para encontrar abusos (em 5 minutos)

  • Resumo de encargos: identifique “rotativo”, “parcelamento da fatura”, “multa/mora”, “IOF”. Veja se o total projetado respeita o teto de 100% do principal. 24
  • Serviços/seguros: verifique lançamentos mensais de pequeno valor (R$ 4,90; R$ 12,90). Se não reconhece, peça cancelamento retroativo. 25
  • Planos “refin/portabilidade”: exija CET comparável e as condições de quitação antecipada sem custo oculto.

Dados e reclamações: onde acompanhar

Para verificar o comportamento das instituições, o Ranking de Reclamações do Banco Central reúne indicadores por instituição; já os boletins da plataforma Consumidor.gov.br apresentam taxas de solução e temas mais recorrentes (cartões estão entre as categorias mais reclamadas). Esses insumos embasam a estratégia de negociação e eventual ação judicial. 27

Boas práticas para não cair na espiral da dívida

  • Pague sempre o total da fatura quando possível; se não, compare o CET do parcelamento com alternativas de crédito.
  • Ative alertas de compra e revise a fatura por categorias (tarifas, seguros, assinaturas, juros).
  • Guarde o PDF do contrato e telas de ofertas (pontos/cashback), que mudam com frequência.
  • Crie rotina mensal de baixar fatura/planilha e arquivar protocolos — isso acelera sua defesa.

Conclusão

A cobrança da dívida de cartão se torna abusiva quando viola o teto regulatório do rotativo/parcelamento, impõe serviços não solicitados, altera condições sem transparência ou mantém débitos sem prova técnica. O caminho de resposta — SAC → Ouvidoria → Consumidor.gov/Procon → Judiciário — funciona especialmente quando você estrutura um dossiê com faturas, contratos e pedidos objetivos (planilha, CET, logs de autenticação). A legislação e a jurisprudência brasileiras favorecem o consumidor: o CDC é aplicado aos bancos e as fraudes/erros de sistema constituem fortuito interno. Com informação, documentação e persistência, é possível reverter cobranças, recuperar valores (até em dobro quando houver má-fé) e ajustar o contrato ao que a lei exige: equilíbrio, transparência e segurança. 28

Guia rápido: quando a cobrança do cartão vira abusiva e como agir em 7 passos

Se a sua fatura disparou por causa de rotativo, parcelamento da fatura e tarifas estranhas, respire: existe um roteiro simples para checar se a cobrança está correta e, se não estiver, para corrigir ou reverter a situação. De forma resumida, a cobrança se aproxima da abusividade quando (a) os encargos projetados fazem a dívida ultrapassar 100% do principal (teto regulatório vigente), (b) há serviços/seguros que você não contratou, (c) o emissor altera juros/limites sem aviso claro ou (d) mantém débitos sem prova técnica de autenticidade. Abaixo, um passo a passo operacional — focado em prática — para você resolver em menos tempo e com mais poder de barganha.

1) Raio-X da fatura em 10 minutos

  • No resumo de encargos, some rotativo, juros, multa, mora e IOF. Compare com o principal que gerou a dívida: se a projeção ultrapassa 100% do principal, sinalize para contestação.
  • Procure lançamentos pequenos e repetidos (R$ 4,90; R$ 12,90): costumam ser seguros, “clube de benefícios”, “aviso SMS”, etc. Confirme se você deu aceite.
  • Se houve parcelamento da fatura, exija o CET (ao mês e ao ano) e guarde a simulação que o banco exibiu.
  • Verifique se seu limite foi reduzido ou se houve aumento de tarifa sem comunicação clara.

2) Monte um dossiê básico

  • Baixe a fatura em PDF e faça prints do aplicativo.
  • Separe o contrato (ou telas de adesão) e a oferta do parcelamento (CET).
  • Liste, em uma página, os itens que você contesta com valor, data e motivo.

3) Fale com o SAC pedindo itens técnicos

Use um texto curto e objetivo:

“Contesto os itens abaixo. Requeiro: (a) planilha com memória de cálculo dos encargos; (b) comprovação de adesão a seguros/serviços; (c) revisão para observar o limite de 100% do principal; (d) em compras não reconhecidas, evidências de autenticação (chip+senha/3DS/logs). Favor informar protocolo e prazo.”

4) Escale com método

  1. Ouvidoria: reenviar a linha do tempo, anexos e pedir relatório conclusivo.
  2. Consumidor.gov.br: abre prazo regulatório e melhora a taxa de solução.
  3. Procon: peça ajuste/estorno e formalização de compromisso.

5) Negocie sem abrir mão do que é seu

  • Compare o CET do parcelamento com alternativas (empréstimo pessoal/portabilidade).
  • Exija que qualquer acordo respeite o teto de 100% do principal e venha com memória de cálculo.
  • Elimine “penduricalhos”: seguros/clubes que você não usa e não contratou.

6) Atenção aos quatro “sintomas” de abusividade

  • Encargos acima de 100% do principal (rotativo + parcelamento) — peça ajuste imediato.
  • Serviços não solicitados — cancele e peça devolução (em dobro se provada má-fé).
  • Alteração unilateral de juros/limites/benefícios sem aviso claro — cláusula pode ser nula.
  • Negativa de estorno sem prova técnica — peça exibição de logs/autenticação e estorno.

7) Quando ir ao Judiciário

Se a instituição mantiver a cobrança irregular, vá ao Juizado Especial Cível (até 40 salários mínimos). Peça tutela de urgência para suspender a exigibilidade, inexigibilidade/ajuste dos encargos, exibição de documentos (planilha, contratos, logs), repetição do indébito e, se houver negativação indevida, danos morais.

Resumo final: analise a fatura, documente tudo e exija técnica — planilha, CET, prova de autenticação. Se aparecerem serviços que você não contratou ou projeções que fazem a dívida ultrapassar 100% do principal, trate como abusividade e acione o caminho SAC → Ouvidoria → Consumidor.gov/Procon → Judicial. Informação, organização e pedidos objetivos são o atalho para reduzir a dívida, recuperar valores e restabelecer o equilíbrio do contrato.

FAQ — Dívidas de cartão de crédito: quando a cobrança é abusiva

1) Quando a cobrança do cartão passa a ser considerada abusiva?

Há abusividade quando os encargos não respeitam o teto de 100% do principal (rotativo + parcelamento), quando são cobrados serviços não solicitados, há alterações unilaterais sem aviso claro ou manutenção de débitos sem prova técnica de legitimidade (ex.: logs de autenticação).

2) O que é o teto de 100% do principal no rotativo e no parcelamento da fatura?

É a regra que limita o crescimento da dívida: a soma de juros e encargos do rotativo e da fatura parcelada não pode fazer o saldo superar o dobro do valor original que gerou a dívida. Se a projeção excede esse limite, você pode exigir ajuste.

3) Como identificar serviços ou seguros cobrados sem contratação?

Procure lançamentos pequenos e recorrentes (R$ 4,90; R$ 12,90) com descrições como “proteção”, “clube de benefícios” ou “aviso SMS”. Se não houve opt-in comprovado, peça cancelamento retroativo e devolução (em dobro quando houver má-fé).

4) O banco pode reduzir meu limite ou mudar juros e tarifas sem me avisar?

Mudanças relevantes exigem comunicação prévia clara e possibilidade real de cancelamento sem multa. Cláusulas que autorizam alteração unilateral ampla tendem a ser nulas por desequilíbrio contratual.

5) Como conferir se o parcelamento da fatura é vantajoso e regular?

Exija o CET (ao mês e ao ano) do parcelamento e compare com alternativas de crédito. Guarde a simulação exibida pelo emissor e verifique se o plano respeita o teto de 100% para o somatório de encargos.

6) O que pedir ao SAC quando eu identificar cobranças abusivas?

Solicite: (a) planilha com memória de cálculo (juros, multa, IOF); (b) comprovação de adesão a seguros/serviços; (c) revisão para observar o teto; e (d) em compras não reconhecidas, evidências de autenticação (chip+senha/3DS/logs). Anote protocolo e prazo.

7) E se o banco negar o ajuste ou não responder?

Escalone para a Ouvidoria com linha do tempo e anexos e registre no Consumidor.gov.br e no Procon. Persistindo a cobrança, cabe ação judicial pedindo tutela para suspender a exigibilidade e revisão dos encargos.

8) Posso pedir devolução em dobro de valores cobrados indevidamente?

Sim, quando houver má-fé — por exemplo, manutenção de cobrança sem contrato ou sem prova de contratação após sua notificação. Além da devolução, é possível pleitear danos morais em caso de negativação indevida.

9) Como provar a abusividade na fatura?

Reúna PDFs da fatura, prints do app, contrato/termos, simulação do parcelamento com CET, protocolos do SAC/Ouvidoria e respostas. Para fraude, junte BO e peça a exibição de logs de autenticação.

10) Quando vale a pena negociar e o que não pode faltar no acordo?

Negocie quando houver capacidade de pagamento e proposta transparente. O acordo deve trazer memória de cálculo, CET, respeito ao teto de 100% e exclusão de serviços acessórios que você não deseja. Evite acordos verbais; peça confirmação por escrito.



Fundamento técnico e base legal

A cobrança abusiva em dívidas de cartão de crédito é combatida com base em normas consumeristas, civis e administrativas. O objetivo é equilibrar a relação contratual e impedir que a instituição financeira imponha encargos ou condições que ultrapassem os limites legais de razoabilidade, transparência e proporcionalidade. O Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Código Civil e as resoluções do Banco Central do Brasil (Bacen) formam o tripé jurídico que sustenta as ações administrativas e judiciais nesses casos.

1) Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990)

  • Art. 6º, III e IV — Garante o direito à informação clara e à proteção contra práticas e cláusulas abusivas.
  • Art. 14 — Estabelece a responsabilidade objetiva das instituições financeiras por defeitos ou falhas na prestação de serviços, incluindo cobranças indevidas e falhas de segurança.
  • Art. 39, V — Proíbe exigir vantagem manifestamente excessiva, ou condicionar um serviço a outro (venda casada).
  • Art. 42 — Determina que o consumidor cobrado indevidamente tem direito à restituição em dobro do valor pago, se houver má-fé.
  • Art. 51, IV e X — Declara nulas cláusulas que permitam alterações unilaterais de contrato ou imponham desvantagem exagerada ao consumidor.

2) Código Civil (Lei nº 10.406/2002)

  • Art. 421 — O contrato deve atender à sua função social, respeitando a boa-fé e o equilíbrio entre as partes.
  • Art. 422 — Impõe a boa-fé objetiva como princípio que deve reger todas as relações contratuais.
  • Art. 927 — Define a obrigação de reparar o dano, mesmo quando derivado do risco da atividade econômica.

3) Súmulas e precedentes judiciais do STJ

  • Súmula 297 — “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.”
  • Súmula 479 — “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros.”
  • REsp 1.639.320/SP — Reconhece a abusividade dos juros quando não demonstrada a justificativa técnica ou quando ultrapassam a média de mercado.
  • AgRg no AREsp 644.859/RS — Confirma a aplicação da restituição em dobro diante da má-fé em cobranças indevidas.

4) Normas do Banco Central e Conselho Monetário Nacional

  • Resolução CMN nº 4.549/2017 — Regulamenta o rotativo do cartão de crédito e o parcelamento da fatura, impondo limites e regras de transparência.
  • Resolução CMN nº 4.655/2018 — Dispõe sobre política de segurança cibernética e medidas de proteção contra fraudes eletrônicas.
  • Resolução CMN nº 4.949/2021 — Determina que as instituições financeiras informem o Custo Efetivo Total (CET) de operações de crédito e deem transparência ao consumidor.
  • Resolução CMN nº 5.103/2024 — Estabelece o limite máximo de 100% do valor principal para encargos em dívidas de cartão de crédito, evitando que a dívida supere o dobro do valor original.

5) Legislação complementar e princípios correlatos

  • Lei nº 13.709/2018 (LGPD) — Garante o tratamento adequado e seguro dos dados do consumidor, inclusive informações financeiras.
  • Princípio da vulnerabilidade — Reconhece que o consumidor é a parte mais fraca na relação, exigindo tratamento diferenciado e protetivo.
  • Princípio da transparência — Impõe ao fornecedor o dever de informar de forma completa e acessível as condições contratuais.

Encerramento e orientação técnica

A cobrança de dívidas de cartão de crédito deve observar os princípios de transparência, equilíbrio e boa-fé. A partir de 2024, com o teto de 100% do principal imposto pelo Banco Central, ficou claro que o consumidor não pode mais ser refém de juros que multiplicam o débito indefinidamente. A revisão contratual e a repetição do indébito são instrumentos legítimos para corrigir distorções.

Administrativamente, o consumidor deve utilizar os canais de SAC e Ouvidoria da instituição, registrando o caso no Consumidor.gov.br e, se necessário, no Procon. Persistindo o abuso, a via judicial — preferencialmente o Juizado Especial Cível — permite pedir revisão, devolução de valores e indenização por danos morais.

Em síntese: a cobrança se torna abusiva quando ultrapassa limites legais, fere o equilíbrio contratual ou falta transparência. O ordenamento jurídico brasileiro oferece meios técnicos e acessíveis para garantir que o consumidor não seja lesado por práticas financeiras desproporcionais.

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